Qual é o relacionamento entre evangelismo e discipulado?


Se existe uma palavra que todos nós entendemos bem nos dias de hoje é a palavra “fatiga”, e junto com ela o conceito de “burnout” se tornou mais comum em nossa realidade que muitos gostariam de admitir. Este tempo de pandemia trouxe uma gama de novas necessidades e desafios para as igrejas ao redor do mundo. Uma das grandes alegrias do meu ministério é fazer parte da Rede Global de Evangelistas, e poder interagir com líderes, pastores e evangelistas ao redor do globo. A Rede Global de Evangelistas procura identificar, afirmar, equipar e mobilizar um exército de evangelistas para combater o bom combate e ganhar muitas almas para o Reino de Deus. Em minhas conversas com muitos destes líderes globais, um tema recorrente é o que eu gostaria de chamar de “a fatiga do evangelismo”. Tantas pessoas nos dias de hoje não apenas questionam a validade do nosso chamado ao evangelismo (em contraste com discipulado), mas elas também questionam sua eficácia e fruto em nossa cultura atual. Se nós fossemos evangelizar, será que isso seria ético? Seria frutífero? Será que este é o foco correto que devemos ter àluz das escrituras?

A Falácia do Evangelismo

Existe uma falácia comum no qual se acredita que pastores e evangelistas são as únicas pessoas que Deus usa para cumprir a grande comissão e repartir as sementes do evangelho. Sim, Deus concede o dom especialmente para os evangelistas, mas todos nós somos chamados para repartir a nossa fé com as pessoas ao nosso redor (Atos 1:8; Colossenses 4:6) e mesmos pastores são chamados a fazer o trabalho de um evangelista (2 Timóteo 4:5)! Meu amigo Raphael Anzenberger escreveu um excelente livro sobre o ministério do evangelista (Rediscovering the Ministry of the Evangelist) e nos relembra que se os teólogos estão particularmente focados em ajudar a igreja a entender as escrituras, e os pastores são incansáveis na tarefa de equipar a comunidade para o trabalho de serviço e cuidado, os evangelistas são naturalmente focados em fazer que toda a igreja compartilhe o evangelho para o todo o mundo (Pacto de Lausanne). Talvez uma das coisas que tem ajudado a gerar a fatiga do evangelismo, é o fato de que muitos ainda não compreenderam a realidade que, evangelismo não pode ser desassociado da vida do cristão ou da vida cotidiana da igreja, porém deve ser entendido à luz do empoderamento do Espírito Santo e não baseado em nossas técnicas humanas ou eventos. O trabalho do Espírito Santo no evangelismo não pode ser feito na força humana ou em nossas metodologias, mas deve ser vivido em submissão a missão do Rei Jesus!

Por mais de uma década, servi como professor de missiologia em um seminário em Johannesburg e posso testemunhar a dificuldade em treinar e equipar pastores, evangelistas e missionários em um sistema que predominantemente existe para equipar pregadores e professores da Bíblia para igrejas locais. Em muito seminários ao redor do mundo o foco e ensino sobre evangelismo é reduzido ou inexistente.

Apesar que pregadores terem um papel importante a desempenhar, os discípulos – pessoas normais que seguem Jesus – são essenciais para o crescimento exponencial da fé cristã (Releia o livro de Atos para verificar essa informação).  A profissionalização do evangelismo e sua relegação as margens do mundo da igreja é a causa que normalmente leva a fatiga da evangelização – lembre que toda a igreja deve levar todo o evangelho para todo o mundo (para mencionar o mantra do pacto de Lausanne novamente). Para todos aqueles que vivem neste meio eu gostaria de fazer uma pergunta: Será que temos preparados nossos estudantes e seminaristas para servir o ministério da igreja e cumprir a missão de Cristo?

Em minhas conversas com alguns líderes cristãos, me parece que o entendimento de alguns líderes é que Jesus nunca nos chamou para fazer “convertidos”, mas que Ele nos chamou para fazer discípulos (se referindo ao texto de Mateus 28:19). Além disso, como evangelista eu normalmente sou questionado sobre como eu discipulo novos convertidos após os nossos festivais e cruzadas. Na maioria das vezes, as pessoas fazem essa pergunta querendo uma resposta sincera, mas em alguns momentos os evangelistas são acusados (de forma indireta) de não se importarem muito com o discipulado ou amadurecimento dos frutos. Será que evangelismo e discipulado são mutualmente excludentes? Será que os evangelistas deveriam cuidar mais de discipulado? Será que os pastores deveriam cuidar mais de evangelismo? Pode parecer que evangelismo está enfrentando um tempo difícil em nosso momento cultural, contudo, essa realidade nos apresenta uma oportunidade maravilhosa de reviver o coração missionário do povo de Deus para terminar a missão que Jesus nos deu.

É as duas coisas, e não isto ou aquilo

Tenho a firme convicção de que evangelismo, e o que conhecemos como discipulado, são a base de uma vida cristã viva – e estão conectados, apesar de serem diferentes. Evangelismo é simplesmente o anúncio das boas novas, e discipulado e fazer discípulos, envolve o processo de amadurecimento. Raphael Anzenberger descreve que evangelista é alguém que proclama, pregue e reparte o evangelho, especialmente as boas novas de Jesus Cristo. Deus equipou a igreja com dons para lidar com os dois elementos (veja Efésios 4:11). Eu amo o que John Stott diz a respeito de evangelismo: “Evangelizar não significa ganhar convertidos, mas simplesmente significa anunciar as boas novas, independente dos resultados”. Esse anúncio feito por evangelistas levou, em alguns casos, a uma má reputação, pois muitos evangelistas tiveram a tendência de se isolarem da igreja local. Essa atitude é piorada quando em alguns casos, pastores e evangelistas entram em competição uns com os outros, ao invés de trabalharem como um time.

O melhor caminho seria pastores e evangelistas trabalharem juntos para salvação e discipulado dos cristãos.

Discipulado + Evangelismo = Sucesso

É uma honra trabalhar para a Associação Luís Palau. A associação tem uma longa história de trabalho em parceria com as igrejas locais e juntos proclamam o evangelho em muitas cidades ao redor do mundo. Nossa missão é proclamar as boas novas, unir a igreja e impactar cidades. Entendemos o evangelismo e discipulado em uma relação simbiótica, e parte de um processo que Ed Stetzer define como “fazer discípulos”. Ed acerta o alvo quando descreve que “nosso evangelismo tem que ser focado em fazer discípulos que se tornam fazedores de discípulos, e nosso discipulado tem que ser missional, levando estes discípulos a repartirem Cristo”. Anzenberger afirma: “um evangelista proclama as boas novas de Jesus Cristo e convida seus ouvintes para basearem sua confiança nEle. Eles estão engajados em uma atividade em que se movem em duas direções opostas, uma de dentro para fora (da igreja para o mundo), da mesma forma que de fora para dentro (os que se arrependem e vão para a igreja)”. Está é a razão que estamos animados pela nossa parceria com o movimento Avanço, pois nós queremos encorajar e dar o suporte para o trabalho de evangelistas através da renovação da paixão por evangelismo nas igrejas ao redor do mundo.

Perguntas para reflexão:
1. Como posso me tornar mais “discipulador” em meu evangelismo?
2. Como meu discipulado reflete o coração de Deus por evangelismo?
3. Que tipos de evangelismo você vê descrito no novo testamento, e como eles te ajudam na sua prática de evangelização?
4. Você já experimentou uma fatiga de evangelismo? Quais são os sintomas e como o evangelho fala para esta realidade?