A pandemia já havia começado em Março de 2021 e rapidamente a situação complicou-se forçando várias igrejas a pararem suas atividades públicas e a manterem apenas os serviços essências/prioritários e autorizados pelo governo em funcionamento. Assim, através de reuniões virtuais, chamadas telefónicas e as redes sociais, alguma assistência pastoral, cultos, estudos bíblicos, ofertas e outras coisas foram mantidas. No entanto, devido a pandemia um grande número de atividades foram consideradas por muitos como “não-essenciais”, sendo deixadas de lado até uma época melhor. Infelizmente, o evangelismo para muitos foi considerado como um dos muitos serviços não-essenciais da igreja em meio a pandemia que vivemos. Como pastor e também embaixador dos Grupos de Avanço em Portugal, ouvi de vários líderes e crentes de diferentes formas a mesma conclusão: “Agora não é um bom tempo para evangelizarmos e esperaremos por dias melhores para voltarmos a evangelização”.
Quer gostemos ou não, todos nós como crentes temos sido afetados pela pandemia, e certamente o Senhor está usando desse momento desconfortável para nos ajudar a nos achegarmos mais a Ele e a mudarmos algumas áreas críticas que por muito tempo estávamos cegos ou insensíveis. Esta crise inevitável que enfrentamos desencadeou um processo de revisão a respeito da forma como temos vivido a nossa fé e como temos sido a Igreja de Cristo neste mundo. Como parte desse processo, muitos Cristãos estão questionando-se sobre o papel, a função e os motivos do evangelismo em suas vidas. O que segue neste artigo são algumas conclusões que através dos Grupos de Avanço, eu e muitos outros fomos profundamente impactados no que diz respeito a evangelizar em meio a pandemia.
Como todas as demais pessoas, há cristãos lutando contra o COVID ou alguma outra doença, ou em sofrimento ou em luto pela perda de alguém. Por estarmos no mesmo barco que toda gente e sofrendo como os demais, somos tentados a sermos egoístas e apenas nos preocuparmos conosco e em como iremos sobreviver a essas situações. Instintivamente, focamos os nossos esforços e recursos em nós próprios na expectativa de sobrevivermos, sem percebermos que isso demonstra o quanto nos amamos e nos preocupamos conosco ao invés de amarmos aos outros. Honestamente, é muito mais fácil demonstrarmos amor e cuidado aos outros quando não estamos também em risco ou sendo afetados por más situações. Será que estamos realmente amando os outros quando não há conveniências, ganho, aparente recompensa e resultado, ou até custos e prejuízo? Ou será que na verdade, tudo isso apenas comprova que mal amamos as outras pessoas e temos na verdade um amor frio por elas (Mat 24:12)? Assim, se realmente amamos o nosso próximo, não poderemos esconder e privar delas todos os maravilhosos benefícios que nós estamos experimentando em Cristo. Porque amamos partilhamos, e se não partilhamos e formos egoístas é porque simplesmente não amamos. Dessa forma, o evangelismo é por excelência a prova viva do nosso amor pelos perdidos, e assim, uma parte crucial pela qual obedeceremos ao mandamento de Jesus sobre amarmos a Deus e ao nosso próximo (Mat 22:37-39).
Estivemos por tanto tempo envolvidos e focados nos cultos que acabamos tendo a impressão de que não há nada mais central e relevante do que isso na vida da igreja. Quando falamos de evangelismo com esta mentalidade culto-cêntrica, facilmente somos tentados a medir o sucesso no evangelismo simplesmente através do número de participantes em nossos cultos. Assim, se o evangelismo de alguma forma fornece pessoas para participarem dos nossos cultos, uma vez que o cultos foram interrompidos, não há então uma clara razão para evangelizarmos na pandemia. Assim, precisamos ser honestos e nos questionarmos com seriedade se evangelizamos as pessoas para que participem de nossas igrejas e cultos, ou se o fazemos para Jesus e o seu Reino. Será que como cristãos estamos no negócio de enchermos grandes templos com multidões de pessoas, ou somos chamados na verdade para povoarmos o céu e trazermos os perdidos para um relacionamento com Jesus?
É óbvio que Jesus e o seu Reino (Mat 6:33) devem ser o motivo central em nosso evangelismo e em tudo mais, e que devemos, realizando cultos ou não, pregar o evangelho “a tempo e fora de tempo”(2 Tim 4:2) a todas as pessoas. Vale notar que temos poucos relatos sobre cultos no Novo Testamento, comparado com o massivo número de relatos sobre pessoas que foram transformados pelo Evangelho. Assim, podemos dizer a luz dessa pandemia que estamos atravessando, que a nossa fé Cristã, como vemos na Bíblia, está muito mas focada nas pessoas e num estilo de vida Cristo-cêntrico do que propriamente em cultos dominicais. Porque as pessoas são o foco da missão cristã, com ou sem pandemia, devemos incessantemente evangelizar.
Apesar de que o evangelismo usualmente é expresso na forma de algum evento da igreja, mais do que nunca está claro que o evangelismo é a razão pela qual nós somos Igreja neste mundo. Para cumprir o mandamento de amarmos a Deus e ao nosso próximo, e a demonstrarmos na prática esse amor através do evangelismo. Certamente, para muitos, este é um momento “fora de tempo” para pregarmos o Evangelho. No entanto, para muitos corações perdidos, este será o “tempo” em que experimentarão a salvação em Jesus, se com ousadia encararmos o imenso desafio que temos de crescermos em amor ao nosso próximo e demostrarmos a eles, Cristo de uma maneira nova e viva.
Em Portugal e em todo mudo estamos ouvindo inúmeros testemunhos de salvação, que demonstram que Deus está trabalhando poderosamente em meio a essa pandemia através de seu povo. Por isso, como cristãos, nestes dias difíceis que passamos, é fundamental que continuemos a superar os nossos medos, egoísmos e focos errados, e a confiarmos e nos apegarmos ainda mais no Senhor. Este é um tempo em que devemos intencionalmente avançar em amor para partilhar com outros a mensagem e a vida de Jesus. Minha oração por você é que você cresça em amor como nunca antes nesses dias em que vivemos, de tal maneira que você possa glorificar a Deus dando-lhe muito fruto.