No ato II, cena II, do clássico Romeu e Julieta, encontra-se um dos diálogos mais memoráveis da dramaturgia. O jovem casal reconhece que se ama, mas por causa do sobrenome que carregam não poderão ficar juntos. No meio desta complexa gama de sentimentos Julieta usa uma metáfora para persuadir Romeu que nomes não importam. Ela diz que se uma rosa tivesse outro nome, não iria produzir o mesmo perfume?
Eu creio que é possível encontrar o mesmo dilema na palavra evangelismo, pois quando cristãos ao redor do mundo ouvem esta palavra, uma gama de sentimentos e pré-conceitos são despertados.
É necessário que entendamos o que é evangelismo, e qual o seu significado para os cristãos do século 21. Por esta razão decidi começar explorando o tema: “10 coisas que não são evangelismo”.
1. Evangelismo não deve ser complicado
Uma das primeiras coisas que vem à mente de muitas pessoas quando escutam esta palavra é que “evangelismo é complicado”, mas a verdade é que isto não é verdade. Evangelismo é simplesmente repartir com o mundo, a vida que o cristão encontrou em Jesus.
Existem três personagens no Novo Testamento que fizeram evangelismo de uma forma simples e natural, mas infelizmente muitas pessoas não percebem. O endemoniado Gadareno, a mulher Samaritana e o cego curado por Jesus. Nenhum deles conhecia Jesus há muito tempo, tampouco tinham treinamento em evangelismo. Mas eles estavam dispostos a repartir a diferença que Jesus fez em suas vidas, e é isso que somos chamados a fazer. Repartir Cristo e a diferença que Ele faz em nossas vidas.
2. Evangelism não deve nascer por causa de um sentimento de culpa
Cristãos não evangelizam para serem salvos, ou para alcançarem salvação, mas o fazemos porque somos salvos. Infelizmente alguns cristãos repartem o evangelho somente por razão de uma pressão interna, porque eles se sentem obrigados a “pagar” o que Jesus fez na cruz. Este sentimento é chamado de culpa.
A verdade é que evangelismo deveria ser uma resposta natural ao amor e perdão dado por Cristo. É desta forma que repartimos o evangelho, pois queremos que todas as pessoas experimentem o mesmo nível de liberdade e vida abundante que estamos experimentando. Se entendermos isto, o sentimento de culpa, será substituído por um sentimento de amor e obediência.
3. Evangelismo não deve ser feito por pressões externas
Não devemos evangelizar apenas porque pessoas ao nosso redor nos encorajam a fazê-lo, mas porque Jesus nos libertou e nos enviou a repartir as boas novas. Qualquer motivo que não seja por Deus ou para Deus não produzirá frutos duradouros em nenhuma das partes.
É normal que amigos, líderes da igreja e inclusive sua família te encoraje e celebre sua jornada em evangelismo, mas isto nunca deve se tornar uma pressão que “te faça ir” para alcançar números ou por desencargo de consciência. Lembre-se que Jesus é liberdade, e é vital que possamos decidir ir e repartir. Evangelizamos, porque o amor de Cristo nos encontrou, e agora não conseguimos guardar este amor somente para nós, e o repartimos com o mundo.
4. Evangelismo não é “bullying”, coerção ou convencimento humano
Não se “forçam” pessoas a aceitarem o evangelho. Evangelismo nunca deveria acontecer baseado em “uma mensagem de terror”, e não podemos manipular ou coagir nenhuma pessoa a ser cristã. Eu fui vítima de “evangelismo de terror” algumas vezes no passado. Por não crer como as outras pessoas, muitos vinham até mim e diziam: Você sabia que se você morrer hoje, você irá para o inferno, para todo sempre? Eu não sei se mais alguém já passou por isso semelhante, mas eu nunca encontrei uma pessoa que tenha vindo a Cristo com uma mensagem desta.
Não é nosso papel convencer as pessoas. Sim, eu irei repetir isto para ajudar as pessoas a se libertarem deste peso. Não é o seu papel convencer as pessoas, este papel é do Espírito Santo. Devemos estar sempre prontos a dar testemunho, razão da nossa fé, mas é o Espírito Santo Aquele que convence, e Ele é muito bom no que faz! Nosso papel é o de apresentar e proclamar Jesus para o mundo.
5. Evangelismo não é fazer marketing da nossa Igreja Local
É saudável e completamente normal o cristão gostar e ter orgulho de sua igreja local, como também é natural que convidemos a maioria das pessoas que conhecemos para vir conosco à nossa comunidade de fé, mas isso não é evangelismo. Muitas igrejas resumem evangelismo a convidar pessoas a virem em atividades da igreja local, ou mesmo falar quão incrível a nossa comunidade é.
Evangelismo é repartir as boas novas de Cristo com o mundo. Continue convidando pessoas para suas atividades, e continue feliz com sua igreja, porém evangelizaremos estas pessoas à medida que repartirmos quem Jesus é e o que Ele fez por nós.
6. Evanglelismo não é criticar outras religiões, outras igrejas e outros líderes religioso
Evangelismo não é a arte de criticar outras religiões, outras denominações e mesmo os líderes religiosos com os quais não concordamos. Nós não devemos perder o tempo valioso que temos, dizendo o que não somos, ao contrário, devemos investir nosso tempo repartindo quem Jesus é e o que Ele fez em nossas vidas. Não perca o tempo em que você poderia estar falando do Rei, falando de outras coisas sem importância eterna.
7. Evangelismo é mais que técnica
Não estou falando que ter uma técnica é errado, mas se Deus está presente, qualquer técnica irá funcionar. As três pessoas “incomuns” que mencionei no primeiro ponto, fizeram evangelismo sem nenhuma técnica da moda, mas podemos ver frutos incríveis através do testemunho destas pessoas. Muitas pessoas creram em Jesus porque puderam ver Jesus em suas vidas.
Toda igreja e instituição deve ter uma técnica, e eu recomendo que todos os cristãos se envolvam com a visão e técnicas usadas em sua comunidade (desde que sejam bíblicas). Contudo, relembre que o evangelho é mais que técnica, e são as boas novas de Jesus Cristo que salva, e não o nosso método.
8. Evangelismo não começa de uma posição de superioridade
Nunca devemos nos engajar em evangelismo, ou atividades evangelísticas, porque somos o “grupo dos salvos” e repartirmos o Evangelho com os pecadores do alto da nossa santidade. Charles Spurgeon disse que “evangelismo é um mendigo dizendo a outro mendigo onde encontrar pão”. Nós vamos e repartimos porque recebemos primeiro, e fomos comissionados por Deus para ir, e nunca por nenhum mérito que possa vir de nós mesmo.
9. Evangelismo não pode ser feito sem amor
Não existe evangelismo verdadeiro feito sem amor. Na verdade Jesus disse, que seria através do amor, que o mundo reconheceria que somos Seus discípulos. Quando a mensagem do evangelho nos alcança, ela nos transforma, e este amor irá quebrar o ciclo de indiferença e inércia em nossas vidas. Desta forma somos lançados ao mundo para alcançar e transformar o mundo, assim com Jesus fez.
10. Evangelismo não é apenas uma atividade, mas um estilo de vida
Nós não fazemos evangelismo no sábado às 15:00hs. Isto pode ser uma caminhada para distribuição de panfletos, ou um outro evento. Evangelismo é mais que uma atividade única, mais que entrega de panfleto, é repartir Cristo e sua mensagem com o mundo. É parte inerente do Cristão, é parte do dia a dia, e da vida de devoção e intimidade com o Pai, e não uma atividade isolada e dissociada de quem eu sou ou faço. Evangelismo é nosso estilo de vida, pois evangelismo é falar do nosso Amigo, Senhor e Pai.